sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Capítulo 6 - I'm a Failure


Eu sabia que era errado. Tinha completa noção disso. Afinal, eu era noivo e ela tinha apenas 17 anos. O que os pais dela pensariam de mim? O que Ashley pensaria de mim? Que eu era um pedófilo filho da puta com certeza! E o pior é que no fundo eu me sentia assim. Mas o que eu podia fazer se ela era gostosa pra caralho e eu, simplesmente, não conseguia tirar os beijos dela da minha cabeça?


Desde a última vez que nos encontramos em frente a casa dela, há mais ou menos uma semana atrás, eu vivo sendo atormentado pelo "fantasma" Demetria. Ashley também não ajuda muito, depois daquela briga, fizemos as pazes na cama, mas, não me pergunte o porquê, isso não me satisfez.

Os dias transcorreram normalmente desde então. Pouco vi Demetria durante essa semana, ela estava ensaiando loucamente pra conseguir ser a bailarina principal da apresentação da academia de dança onde ela dançava.

Tinha acabado de chegar do trabalho e estava na cozinha pensando no que comer quando ouvi sirenes pela rua. Deixei os pensamentos de lado e fui até a rua ver o que estava acontecendo. No momento em que coloquei os pés pra fora de casa meu coração parou e eu já não sabia como respirar.

Havia umas três viaturas da policia paradas em frente a casa dos Lovato. De relance pude ver Dianna chorando e sendo aparada pelo marido. Uma única coisa passou pela minha cabeça: Demetria.

Saí, quase correndo, em direção a casa de Demi e assim que me aproximei Dianna veio até mim e me abraçou. Eu fiquei sem reação em primeiro momento, mas logo a reconfortei em meus braços e me senti momentaneamente tonto. O que estava acontecendo?

Olhei para Eddie e ele estava desolado e isso só me assustou mais ainda. O casal estava bem vestido, com trajes sociais, apesar de Dianna está com a maquiagem borrada e o cabelo despenteado e Eddie já não tinha mais a gravata em volto ao pescoço e isso me fez lembrar de que hoje era a apresentação seletiva de Demetria.

Dianna se desvencilhou de mim e ao encará-la senti meu coração pulsar na garganta. O olhar completamente triste e sem esperanças me fez pensar no pior.

- Ela se foi – Dianna me disse com a voz fraca e voltou a chorar.

Empalideci na hora e senti minhas pernas fraquejarem. Como assim ela se foi? Ela estava na apresentação de balé, não era? Por Deus, ela tinha que estar bem! Olhei por sobre o ombro de Dianna para Eddie esperando uma resposta às minhas perguntas mudas.

- Ela fugiu de casa – ele disse e abaixou o olhar triste.
- Como assim? Por quê? – eu perguntei com um misto de alívio e preocupação. Pelo menos ela estava viva, ainda.
- Ela deixou um bilhete em cima da cama – Dianna disse desvencilhando-se de mim e me estendendo um pedaço de papel com as mãos trêmulas.

Escrito em uma caligrafia perfeita, como se as letras tivessem sido, cuidadosamente, desenhadas, estava a seguinte frase:

“Não quero ser uma mancha na vida de vocês
e foi por amá-los demais que decidi ir embora.
Com amor,
Demi.”

Mil coisas passaram por minha cabeça, cheguei até em pensar que EU era o motivo pra isso, mas logo Eddie me deu outro motivo.

- Ela ficou como substituta na apresentação – ele disse passando a mão pelos cabelos.
- Foi minha culpa – foi a vez de Dianna se manifestar – eu cobrei muito dela, a pressionei demais. Meu Deus, eu quero minha filha de volta!

Eddie voltou a abraçar a esposa e sussurrou um “Calma, não foi sua culpa”.

- Faz quanto tempo que ela foi? – eu perguntei meio desesperado – Ela levou algum dinheiro?
- Não sabemos quanto tempo faz, ela saiu antes da gente do teatro e, pelo que vimos, ela deve estar só com o que restou da mesada dela desse mês, o que não deve ser mais que 50 reais. – Eddie respondeu e antes que ele terminasse eu já estava correndo até minha casa.

Ouvi Eddie gritar algo como “Aonde você vai?”, mas eu não parei pra responder. Tempo era algo que eu não tinha agora. Demi estava com pouco dinheiro o que quer dizer que ela não poderia ter ido tão longe.

Entrei em casa e peguei minha carteira e a chave do carro. Pensei em deixar um bilhete pra Ashley, mas como disse antes, tempo era uma coisa que eu não tinha. Depois explicaria a ela o que aconteceu.

Entrei no carro e dei partida acelerando logo em seguida. Saí cantando pneus e com toda minha concentração voltada a uma única coisa: Achar Demetria.

Fui em direção a estrada que levava para fora da cidade e prestei o máximo de atenção em todas as pessoas que via, na esperança de vê-la vagando por ali. Nada. Logo vi uma lanchonete de beira de estrada e decidi parar pra perguntar. Entrei no estabelecimento e falei com o primeiro atendente que vi.

- Ahn, você por acaso viu uma garota, não muito alta, com cabelos pretos e provavelmente com roupas de balé? – eu perguntei torcendo pra ouvir uma resposta positiva.
- Não senhor, desculpa. – o atendente respondeu fazendo uma careta de desapontamento.
- Tudo bem, obrigado. – eu disse soltando um suspiro frustrado.

Caminhei até a saída, decidido em não desistir, mas antes que pudesse sair alguém chamou por mim.

- Ei, rapaz- um senhor de barbas brancas e olhos pequenos me encarava sério – O que essa menina é pra você?
- Ahn... Minha vizinha – respondi confuso.
- Acho melhor você correr filho, eu a vi pedindo carona na estrada – ele disse tomando um gole da cerveja que estava em suas mãos – e existem muitos caras com más intenções nesse mundo meu rapaz.
- Obrigado – eu disse e saí correndo em direção ao carro.

Aquele senhor estava certo. O que Demetria tinha na cabeça? Pedi carona na estrada é quase o mesmo que assinar seu estado de óbito.

Continuei com os olhos atentos na estrada até que a avistei. Caminhando lentamente pelo acostamento, o cabelo em um coque, ainda perfeito, a bolsa cor de rosa pendia em um dos ombros, um casaco grande cobria o corpo dela e os fones no ouvido completavam a cena.

- Ei – eu chamei e ela se assustou ao olhar pra mim.
- Joe? – ela estava com a voz fraca e só então reparei que ela tinha os olhos vermelhos.
- Entra no carro Demetria. – eu disse com a voz séria ela ia responder algo, mas eu não deixei – Isso não é um pedido, é uma ordem!
- E quem é você pra me dar ordens? – ela perguntou cerrando os olhos, indignada.
- Nesse momento, sou alguém mais sensato que você. – eu disse apontando pra ela – entra logo no carro.
- Não quero ir pra casa Joe – ela disse em tom baixo.
- Tudo bem – eu respondi dando de ombros – Vamos pra outro lugar, só entra no carro.

Demi me encarou por breves minutos, mas logo se deu por vencida e entrou no carro.

- Não fala nada ok?! – ela disse colocando o cinto de segurança – Não tô a fim de conversar.
- Ok! – eu disse e arranquei com o carro.

Dirigi por longos minutos sem rumo algum. Eu queria muito falar com ela, perguntar o que aconteceu, mas estava respeitando o espaço dela. Talvez ela só precisasse de um tempo. Olhei pro marcador de gasolina no painel do carro e vi que estava ficando sem combustível. Era melhor eu encontrar um posto logo, ou então ficaríamos ali, no meio do nada.

Graças a Deus, não demorou muito pra que eu avistasse um posto logo a diante. Liguei a seta e dobrei, estacionando próximo a bomba de combustível. Desci do carro e abasteci. Quando eu estava colocando a mangueira de volta no suporte ouvi a porta do carro abrir, virei-me e vi Demi saí do carro e cruzar os braços.

- Tô com fome – ela disse com uma carinha que me fez sorrir.
- Vamos ali na loja de conveniência comprar alguma coisa – eu disse e caminhei até ela e em seguida até a loja.

Compramos todo o tipo de besteira que se pode imaginar, entre doces e salgados, tudo de menos saudável estava agora em cima do capô do carro e eu e Demi comíamos em silêncio.

- Pensei que bailarinas se alimentassem de forma saudável pra manter a forma. – disse em tom divertido, tentando iniciar uma conversa.
- Não estou preocupada com isso. – ela disse soltando um risinho nasalado – Não agora.

Balancei a cabeça positivamente e coloquei uma mão no bolso da calça enquanto a outra segurava a lata de refrigerante. O silêncio voltou, mas por pouco tempo, logo Demi manifestou-se.

- Eu não sei se tenho coragem de voltar pra casa – ela disse em tom baixo olhando pra garrafa de Coca-Cola em suas mãos – Meus pais devem estar me odiando.
- Eles estão mortos de preocupação Demetria – eu disse olhando pra ela – Também pudera né?! Que ideia foi essa de fugir?
- Eu não sei... – ela disse e abaixou a cabeça
- Seus pais jamais vão te odiar – eu disse bebendo um gole da minha Coca-Cola em seguida – Eles te amam e sua mãe estava desesperada, não parava de chorar e se culpar por isso.
- Oh Deus, o que eu fiz? – ela disse e começou a chorar.

Eu deixei minha Coca-Cola de lado e a puxei para um abraço. Era o que ela precisava. Assim que se viu envolta em meus braços, Demi se entregou ao choro. Por logos minutos apenas senti as lágrimas dela molharem minha camisa e os soluços dela balançarem seu corpo.

Eu acariciava seus cabelos e a abraçava o mais forte que conseguia, como se pudesse, assim, transferir qualquer dor que ela estivesse sentindo, pra mim.  Não sei se pela diferença de idade ou se por, simplesmente, não conseguir vê-la chorando, mas meu instinto de proteção foi a mil naquele momento. Queria matar qualquer coisa que tivesse feito mal a ela, por mais que o motivo fosse abstrato.

Fechei os olhos com força, na tentativa de reprimir meus sentimentos. Tarde demais. Já estava envolvido. Naquele momento percebi que, o que quer que estivesse acontecendo entre eu e aquela garota em meus braços, tinha ido longe demais pra que eu pudesse voltar.

Demi foi se acalmando e, conforme isso ia acontecendo, eu ia afrouxando o abraço, até ter apenas minhas mãos nos ombros dela.

- Eu só queria poder acreditar em mim sabe?! – ela disse ainda soluçando de leve.
- Ei – disse levantando o rosto dela pelo queixo – Seus pais acreditam em você Demi, eles tem orgulho da filha que tem e você devia se orgulhar do que é também.
- Eles devem estar morrendo de vergonha de mim agora – ela disse tapando o rosto com as mãos.
- Eu tenho certeza absoluta que não. – eu disse tirando as mãos dela do rosto – Olha, você é incrível, eu nunca vi você se apresentando, mas tenho certeza que é incrível.
- Como pode saber se nunca viu? – ela perguntou com ar de superior.
- Bem, eu tive uma amostra grátis outro dia lá em casa – eu disse rindo e ela riu brevemente.
- Eu acho que vou parar de dançar – ela disse de cabeça baixa.
- O QUÊ? – eu gritei – você não pode fazer isso Demetria.
- Claro que posso – ela disse me olhando nos olhos – e é o que vou fazer.
- Demi, você não pode desistir só porque perdeu uma chance – eu disse segurando seu rosto em minhas mãos – Você ainda vai ter outras e vai consegui o que quer.
- Eu teria que ensaiar o dobro do que ensaio pra ser melhor que a Bruna – ela disse dando de ombros.
- Olha, eu não sei quem é Bruna – eu disse dando de ombros – mas tenho certeza que se você treinar com vontade, ninguém será melhor que você.
- Se eu te pedisse uma coisa você faria? – ela perguntou em tom baixo olhando em meus olhos.
- Qualquer coisa – eu disse e me senti patético assim que assimilei o que havia dito.

Demi sorriu brevemente e abaixou a cabeça, levantando logo em seguida, suspirou e disse:

- Quero que você me veja ensaiar – ela disse meio tímida – lá em casa, na minha sala de ensaio.

Fiquei sem fala, processando o que ela havia acabado de me pedir. Não era uma boa ideia, levando em consideração o que aconteceu da última vez que a vi ensaiar, isso não poderia dar certo.

- Acho que nem seus pais nem Ashley ficariam muito contentes com isso – eu disse e logo pude ver os olhos dela adquirindo um brilho de tristeza.

Demi abaixou a cabeça e concordou levemente sussurrando um “Entendo”. Aquilo quebrou meu coração em mil pedaços. Não era justo. Porque ela tinha que ter todo aquele poder de persuasão sobre mim?

- A gente pode fazer assim – eu disse levantando o rosto dela pra que ela me olhasse – combinamos um dia e eu e Ashley vamos assistir um ensaio seu ok?!
- Esquece Joe – ela disse balançando a cabeça em sinal de negação – Vou voltar a treinar na academia em horário integral, vai ver essa a solução dos problemas.

Mordi o lábio e apenas concordei com a cabeça. Eu sabia a que problemas ela estava se referindo, não era do balé que ela estava falando, era de nós dois. Ensaiando em tempo integral, ela só teria tempo de chegar em casa e dormir. Não sobraria espaço pra encontros inesperados na sacada do quarto ou em frente de casa. Sem tempo pra deslizes, sem espaço pra erros.

- Eu tenho que te levar de volta pra casa mocinha – eu disse tentando mudar de assunto.

Demi soltou um suspiro derrotado e apenas confirmou com a cabeça. Entramos no carro e seguimos de volta em silêncio.

Assim que avistou meu carro Dianna veio correndo da varanda da frente de sua casa até a rua. Eddie estava sentado em um dos degraus e pude ver que Ashley estava com eles, com uma cara, no mínimo, desconfiada.

Demi saiu do carro e foi recebida calorosamente pelos pais que a abraçaram em conjunto. Ashley veio até mim logo que sai do carro.

- Bancando o herói querido – ela disse irônica.
- Qual é Ashley? Eu só quis ajudar – eu disse sem paciência.
- A polícia estava procurando por ela, você não precisava se dar ao trabalho – ela disse com a voz alterada.
- O que foi? Tá com ciúmes de uma garota de 17 anos? – eu perguntei incrédulo.

Apesar de eu saber que ela tinha motivos pra ter ciúmes, eu não ia deixar tão na cara assim. Além do mais, eu tinha decidido durante a viagem de volta que era melhor me afastar de Demetria. Era o certo a se fazer.

Antes que Ashley me respondesse, Dianna e Eddie se aproximaram de mim e começaram a me agradecer efusivamente. Demi sorria e eu, apenas, não conseguia tirar os olhos dela. Eu teria que suportar a distância, pelo bem dela. Eu jamais seria o que Demi merecia que eu fosse pra ela, não ía usá-la por uma fantasia masculina idiota. Era melhor me afastar antes que eu a machucasse.

Voltei pra casa ouvindo as reclamações e indagações de Ashley, mas preferi deixa-la falando sozinha. Não estava com cabeça pra isso. Meu cérebro travava uma batalha com meu coração naquele momento. A razão dizia que eu tinha que me afastar de Demi, mas meu coração dizia que eu precisava dela, tanto quanto ela precisava de mim. A quem eu deveria ouvir?

Continua...

3 comentários:

  1. Joseph posando o pai da Demetria quando a encontrou, adorei, apenas, hahaha. Qdo eles estão juntos os vejo mais como irmãos ou tio e sobrinha, não consigo imaginá-los como um casal!! Mas o proibido me emociona.... Já Ashley já tá começando a perceber, e deve. Aí ela e Joe se separam logo e não causa demais. PORÉM vai perder toda a emoção de ver Jemi juntos correndo risco de serem pegos, então por enquanto é melhor ficar como está, kk.

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